Este pedido chega até nós de um casal de amigos muito próximos.
Começa ainda mais cedo, quando decidem comprar a casa anexa e participamos numa primeira visita, onde já surgem as primeiras impressões do seu potencial.
Situa-se em Godella, uma zona residencial da área metropolitana de Valência, num bairro de baixa densidade com tipologia obrigatória de moradias geminadas e quintais.
A casa original, de 1949, responde à tipologia tradicional de piso coberto de 2 águas com ampla entrada para carros e animais, e outras divisões por um lado, dando passagem pelo pátio central a outra construção para as alfaias ao fundo . Esta composição e as suas condições urbanísticas permitem-nos imaginar uma extensão da casa principal em altura, mantendo intacto o logradouro e o edifício de fundo.
Em resposta às necessidades e possibilidades da família, aposta-se numa reabilitação e ampliação que permita a inclusão do novo programa, mas ajustando o referido aumento de superfície com o mínimo de volume e o mínimo de operações possíveis. Isso implica a conservação da fachada e dos pilares divisórios como sistema estrutural a partir do qual a casa crescerá. Tudo o resto é demolido, pelo seu mau estado ou pela sua pobreza construtiva.
O projeto propõe a elevação mínima da empena até a fachada, para contemplar o primeiro andar e o mezanino. Este aumento realiza-se até um novo pátio interior, que irá melhorar as condições de iluminação e ventilação em todos os seus pisos. Esta extensão inclui a escada, e os quartos e banheiros, crescendo verticalmente e aproveitando os mezaninos para melhorar os usos e superfícies. A partir do vazio interior está a área do dia, diretamente ligada ao grande pátio existente através de uma grande janela emoldurada pela nova estrutura.
A nível ambiental, a escolha dos materiais para a nova estrutura e a envolvente serão fundamentais. Aspectos como a redução do uso de concreto armado e aço, concentrados apenas nas novas fundações e lajes sanitárias, resultam em uma proposta onde a madeira e a cerâmica são protagonistas.
Propõe-se construir a nova casa com base na eficiência, versatilidade e caráter ambiental da madeira no papel principal. E para encontrar a inércia que o clima mediterrânico exige, dá-se um papel secundário à cerâmica, seja em blocos ou em azulejos.
Madeira para pilares e vigas novas, para lajes com painéis sanduíche, para reforço de pilares existentes e para carpintaria. Blocos cerâmicos para construção de paredes portantes como elementos maciços e telhas de barro para pavimentos, acabamentos e rodapés.
Ambos os materiais permitem recordar os sistemas construtivos tradicionais da zona, resgatando e promovendo os valores pelos quais foram então escolhidos. Se chegaram até nós é por tradição, e devemos dar-lhes o destaque que merecem, para que continuem a viver numa versão atual da moradia mediterrânica, como reflexo da sua eficácia e validade.